quinta-feira, 30 de abril de 2020


O Senhor “Bento”



Desenho de Paula Marques (Obrigado)
Consta que numa família fina, de gente farta e fingida, a Senhora Dona Constança (que nosso senhor lhe tenha lá em sossego a pança), tinha um amante de graça Bento. Shshshsh!!! Que é segredo…


Um certo dia de vento, em que tudo varria de alvoroço, como se de castigo divino se tratasse, assobiavam as janelas, batiam as portas como tontas e apagavam-se a velas, a Senhora Dona Constança (que nosso senhor lhe tenha lá em sossego a pança), perguntou à criada Gertruda:

- Truda, diz tu, que barulho é este, que castigo me estará deus nosso senhor a dar?

Respondeu prontamente a Gertruda:

- É o bento minha Senhora, é o bento… Mas fique Vossência sossegada que é o bento que abana as portas, não é o Bento que “F” abana a senhora.

terça-feira, 21 de abril de 2020


Um doido Varrido

Para quem não sabe, o que possa ser mais provável encontrar sob um singelo tapete de um manicómio (diga-se, plenos foles, que a mesma coisa que em qualquer das nossas casas ou do nosso próprio templo interior), fiquem sabendo que nem mais nem menos que:
- Sim! Um doido varrido.
Cortesia de um Amigo (Obrigado)
Foi disso que, o Jaquim, da minha terra, foi encontrar a esmo, quando por lá passou (pelo manicómio!). Encontrou ele, pois, desde doidos varridos a doidos menos doidos, a doidos engenhosos e até doidos com cheiro apurado, como aquele que corria pelos corredores enfiando o dedo no “fiofó” (no cu para quem não perceber), e gritava em altos brados:
- Senhor doutor, estou podre, senhor doutor… Estou completamente podre!
Foi assim que, o Jaquim, conheceu a história magna de um certo tolo que tinha a mania de caçar passaritos com uma fisga… Ora vejam lá a quantidade de gente que anda por aí a caçar pássaros e fêmeas, e ninguém os interna!!! Vejam lá…
Pois, esse inveterado, a cada vez que a reinserção o abeirava, tentava de sua sorte vencer os muros do redil onde o tinham misturado com insanos profissionais do “psiquiatrismo”.
- Então pá, se te deixarmos sair o que farás da tua vida?
- Vou trabalhar, ganhar dinheiro…
- E que mais?
- Depois compro elásticos e faço uma fisga, para ir aos pássaros…
- Não, ainda não estás curado, volta para dentro.
Nova tentativa e muitas outras e histórias semelhantes, e o sujeito afinou o discurso:
- Se me deixarem sair, vou trabalhar, depois arranjo namorada, depois caso-me.
- Muito bem, vejo que estás no bom caminho. E filhos, vais querer ter filhos?
- Não. Na noite de núpcias, tiro as cuecas da gaja, fujo com elas, e com os elásticos faço uma fisga e vou aos pássaros…

terça-feira, 7 de abril de 2020


Come e cala…

O Jaquim, da minha terra, entrou em casa, calcúrreos pendurados ao pescoço (descalço como gostava, para sentir melhor a terra, às vezes também um tojo afiado e outras o dedo estoirado na raiz de pinheiro), atira a sacola, com a pedra de ardósia (já quebrada) e o livro de leitura, e emburra a um canto.

Desenho de Susana Dias (Beijinhos)

- Que tens Jaquim? – demandou o pai.

- É a senhora “prebessora” que todos os dias quer saber o que foi o meu “cumer” do dia anterior.

- E tu, meu filho, que lhe tens dito?

- Eu mê pai, não lhe minto, digo-lhe que comi caldo. E ela “resinga” comigo. Sempre caldo, sempre caldo… E o pior é que os “oitros” meninos se riem de mim.

- Olha filho, talvez ela se ria porque nunca provou o caldo que a tua mãe faz, com tudo aqui criado, na nossa horta, estrumado com o mato das matosinhas. Mas diz-lhe, amanhã, que hoje a ceia foi lagosta.

Dia seguinte lá vai o Jaquim, cheio de vontade de aprender, para a escola.

- Então Jaquim, o que comeste tu ontem? – perguntou a professora (pergunta desnecessária ao que sabemos).

- Ontem senhora “prebessora”, ontem enfardei lagosta.

- Lagosta Jaquim. Sim senhor! E comeste muito?

- Comi sim, minha senhora, duas malgas.

sábado, 4 de abril de 2020



E o Cheiro?


Ilustração de Danille-Mae (Beijinhos)
O Jaquim, da minha terra, rapaz, sem tempo, da idade dos rapazes da sua idade, era moço pouco dado a banhos e outros mimos de cuidado hirsuto.
Imundo e grosso descia com regularidade ao povoado, para lavar a alma por dentro, na taberna do latoeiro. Ainda assim pouca água e essencialmente ardente.
Vinha sempre na solitária companhia de um farto enxame de moscas da merda, que o gravitavam qual núcleo atómico radioactivo do mais charmoso fedor.
Consta que, o Jaquim, vivia confortável, num (modernamente conhecido como T zero), com vista para a estrumeira exterior, três por quatro, minimalista. Uma manjedoira para o Bode Jasmim e outra para ele, da qual fazia majestoso divã. Por outro palavrear, num curral.
Um dia, entre dois dedais de bagaço, para afugentar a pulga, amolentar a carrapata e fumigar a melga, os amigos perguntaram-lhe em fundo de gargalhada:
- Ó Jaquim, vives lá com um Bode, num curral? É verdade?
O Jaquim acenou orgulhoso, afagando o cabelo e a barba, com o cebo de mais de 30 anos: - Pois…
- Então e o Cheiro Jaquim? – Perguntou o Cocas.
- O Cheiro? (Intrigou-se o Jaquim, coçando a pança), acho que o Animal já se habituou!!!