Come e cala…
O Jaquim, da minha
terra, entrou em casa, calcúrreos pendurados ao pescoço (descalço como gostava,
para sentir melhor a terra, às vezes também um tojo afiado e outras o dedo
estoirado na raiz de pinheiro), atira a sacola, com a pedra de ardósia (já
quebrada) e o livro de leitura, e emburra a um canto.
Desenho de Susana Dias (Beijinhos) |
- Que tens
Jaquim? – demandou o pai.
- É a senhora “prebessora”
que todos os dias quer saber o que foi o meu “cumer” do dia anterior.
- E tu, meu
filho, que lhe tens dito?
- Eu mê pai, não
lhe minto, digo-lhe que comi caldo. E ela “resinga” comigo. Sempre caldo, sempre
caldo… E o pior é que os “oitros” meninos se riem de mim.
- Olha filho,
talvez ela se ria porque nunca provou o caldo que a tua mãe faz, com tudo aqui
criado, na nossa horta, estrumado com o mato das matosinhas. Mas diz-lhe,
amanhã, que hoje a ceia foi lagosta.
Dia seguinte lá
vai o Jaquim, cheio de vontade de aprender, para a escola.
- Então Jaquim,
o que comeste tu ontem? – perguntou a professora (pergunta desnecessária ao que
sabemos).
- Ontem senhora “prebessora”,
ontem enfardei lagosta.
- Lagosta Jaquim.
Sim senhor! E comeste muito?
- Comi sim,
minha senhora, duas malgas.
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