terça-feira, 7 de abril de 2020


Come e cala…

O Jaquim, da minha terra, entrou em casa, calcúrreos pendurados ao pescoço (descalço como gostava, para sentir melhor a terra, às vezes também um tojo afiado e outras o dedo estoirado na raiz de pinheiro), atira a sacola, com a pedra de ardósia (já quebrada) e o livro de leitura, e emburra a um canto.

Desenho de Susana Dias (Beijinhos)

- Que tens Jaquim? – demandou o pai.

- É a senhora “prebessora” que todos os dias quer saber o que foi o meu “cumer” do dia anterior.

- E tu, meu filho, que lhe tens dito?

- Eu mê pai, não lhe minto, digo-lhe que comi caldo. E ela “resinga” comigo. Sempre caldo, sempre caldo… E o pior é que os “oitros” meninos se riem de mim.

- Olha filho, talvez ela se ria porque nunca provou o caldo que a tua mãe faz, com tudo aqui criado, na nossa horta, estrumado com o mato das matosinhas. Mas diz-lhe, amanhã, que hoje a ceia foi lagosta.

Dia seguinte lá vai o Jaquim, cheio de vontade de aprender, para a escola.

- Então Jaquim, o que comeste tu ontem? – perguntou a professora (pergunta desnecessária ao que sabemos).

- Ontem senhora “prebessora”, ontem enfardei lagosta.

- Lagosta Jaquim. Sim senhor! E comeste muito?

- Comi sim, minha senhora, duas malgas.

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