quinta-feira, 12 de março de 2020


Nem tanto!

O Jaquim, da minha terra, lá onde o sol manda nas pedras frias e a lua as mima no escuro da noite, trabalhava à jorna, para patrão generoso e justo.
O Jaquim cavava, o Jaquim semeava, o Jaquim colhia… Pouco reclamava, pouco comia…
Era um Jaquinzinho económico para a economia…
Certo dia, quando sol abrasava, andava o Jaquim lançando à terra, sua madrasta, grãos de trigo, enquanto patrão, suores de alambique de tanto incentivar a labuta, olhava turvo o campo e nele a sombra pálida do Jaquim.
O Jaquim. Cortesia de Paula Marques (Muito Obrigado)
- Jaquim, meu rapaz, temos que aumentar a tua eficiência laboral!
- Diga meu amo, diga… (respondeu o Jaquim, prontamente e pedindo ao patrão desculpa por estar a ser abusado e ainda assim permanecer de costas).
- Jaquim. Se no mesmo compasso com que semeias com a mão direita também adubares com a mão esquerda, ganhas tempo (e eu dinheiro).
Assim aceitou o submisso Jaquim. Semeava com uma e adubava com a outra. Nada tardou até estar a semear com uma, adubar com a outra, e cobrir a semente com um pé e alisar a terra com o outro… A Máquina tornou-se eficientíssima. Mas o Jaquim cada vez chegava menos eficaz a casa.
Estava o Patrão do Jaquim pouco preocupado com o Princípio de Gestão que diz que não há quantidade de eficiência que justifique a perda de eficácia. A eficiência corria a seu favor… A eficácia doméstica do manso Jaquim era um problema dele…
Quando, no tarde entardecer das mansas horas da melancolia, um dia o Jaquim entrou… cansado e rastejante, em casa, deparou-se com cenário anunciado. A Maria tinha arranjado solução de vizinho para a falta de eficácia do Jaquim.
- Jaquim! Isto não é o que tu julgas… calma!!! (suplicou a Maria aos Gritos).
- SSSSShhhhh (suplicou o Jaquim). Não digam nada a ninguém. Se o meu patrão sabe, pendura-me um lampião em cada corno e pede-me para trabalhar durante a noite….

Sem comentários:

Enviar um comentário